Rio tem epidemia de esporotricose em gatos; entenda a doença
O Rio de Janeiro enfrenta uma epidemia de esporotricose, doença causada por fungo e caracterizada por lesões na pele. Ela afeta principalmente gatos e pode ser transmitida para os humanos.
De acordo com a prefeitura, nos primeiros seis meses deste ano foram registrados 824 casos de animais infectados no Rio. Para combater a doença, a Vigilância Sanitária iniciou na quarta-feira (5) uma campanha de conscientização, distribuindo panfletos e alertando a população sobre como evitar a contaminação.
No Rio, os animais suspeitos de infecção podem ser encaminhados para tratamento ao Centro de Zoonoses Paulo Dacorso Filho ou à Unidade de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman. Para marcar consulta é preciso agendar um horário pelo telefone 1746.
Caso a lesão seja observada na pele de uma pessoa, é necessário ir a uma unidade municipal de saúde. Os endereços podem ser consultados na página da Secretaria Municipal de Saúde do Rio aqui.
Em São Paulo não há epidemia, segundo informou à Folha o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), órgão ligado à Secretaria Municipal da Saúde. Em 2015, apenas dois casos foram registrados em pessoas e 62 em animais.
O QUE É ESPOROTRICOSE
A esporotricose, também conhecida como doença do jardineiro, é causada pelo fungo Sporothrix schenckii, que é encontrado na vegetação.
A contaminação ocorre quando o fungo entra em contato com uma ferida ou corte na pele durante a manipulação de plantas, terra, palha e madeira com farpas. O gato infectado, ou qualquer outro bicho, pode transmitir a doença para o ser humano por meio de arranhões e mordidas.
Segundo a veterinária Luciana Deschamps, da clínica Sr. Gato, humanos, gatos, cachorros, coelhos, entre outros animais, podem ser contaminados pelo fungo. “Mas por sua natureza xereta, os felinos costumam ser mais suscetíveis, já que eles costumam entrar em contato com mato, plantas, árvores e se escondem em garagens e porões sujos”, conta.
Além disso, o gato que vai para a rua pode brigar com outro que esteja doente e ser infectado por meio de arranhões e mordidas.
Deschamps alerta que não há motivos para entrar em pânico caso o dono ou o gato sejam contaminados. “Há cura para a esporotricose, nem pense em sacrificar o bichano”.
No homem, a doença costuma se manifestar com um nódulo avermelhado, que pode aumentar de tamanho ou vir acompanhado de outras lesões enfileiradas. Também pode ocorrer dor nas articulações e febre. Não há transmissão entre pessoas e o tratamento é feito com antifúngico.
No felino, a doença se caracteriza com o aparecimento de feridas, geralmente na face e nas patas, que progridem para o resto do corpo. O tratamento também é feito com antifúngico.
A CURA É POSSÍVEL
O caso do gato Amarelo mostra que é possível vencer a esporotricose mesmo em estado avançado.
Em novembro de 2014, a protetora independente Monica Sousa saiu para fazer compras em Itaquaquecetuba, quando viu um gatinho estendido no chão. Ele estava tão machucado que, de longe, parecia que havia sido atropelado.
Ao se aproximar do bichano, Sousa percebeu que as feridas eram de esporotricose. Ela deixou as compras no chão, colocou as sacolas nas mãos e pegou o gatinho.
“O que mais me incomodou foi a cara de nojo que as pessoas fizeram para mim quando o peguei”, diz. “Ele estava todo ferido, sem forças, e ninguém nem olhava para ele. Se eu não o tivesse tirado de lá, provavelmente morreria em poucas horas.”
Sousa levou o gato a um veterinário de sua confiança, mas o prognóstico não foi bom. “É mais um para você chorar”, disse o profissional. O veterinário receitou antifúngico e antibiótico, porque as lesões estavam infeccionadas.
O gato, que Sousa passou a chamar de Amarelo, não podia ficar na clínica porque, como a doença é contagiosa, o fungo no ambiente poderia afetar outros animais.
“Eu também não podia ficar com ele na minha casa, pois estava dando lar temporário para 15 gatos naquela época”, conta.
Foi então que ela compartilhou as fotos dele no Facebook, explicou que precisava ficar em um ambiente isolado, e se surpreendeu quando uma mulher que ela não conhecia, Monica Alonso, ofereceu ajuda.
“Eu fiquei desconfiada no início, mas fui até Jundiaí, onde ela mora, levei o gatinho, e percebi que ela realmente ficou sensibilizada com a situação”.
Alonso isolou Amarelo, que ela chama de Meninão, em um espaço no escritório dela. Não era possível deixá-lo em sua casa, pois ele poderia contaminar sua gatinha.
Ela começou a dar a medicação que o veterinário receitou e os resultados apareceram rapidamente. “Quando eu vi o Amarelo, semanas depois, a recuperação já era visível. No dia que eu o encontrei ele mal respirava, pois a doença já havia afetado suas vias aéreas”, afirma Sousa.
Atualmente, nove meses após Sousa encontrar o animal quase morto na rua, Amarelo/Meninão está gordo, peludo e tem apenas uma pequena cicatriz no nariz.
“Ele ainda precisa tomar a medicação, mas espero que em breve receba alta do veterinário”, diz.
COMO PREVENIR A DOENÇA
— Procure um veterinário caso suspeite que seu animal esteja contaminado
— Usar luvas ao manipular bichos doentes
— Limpar o ambiente com água sanitária
— Animais em tratamento devem ser mantidos em locais seguros e isolados
— Caso a doença não seja tratada a tempo e o bicho morra, o corpo deve ser cremado e não enterrado, já que o fungo sobrevive na natureza
— Não cobrir as feridas com curativos
— Não dar banho no animal doente
— Castrar gatos e gatas saudáveis para evitar que eles saiam de casa e sejam contaminados
— Procure um médico caso suspeite que uma pessoa está contaminada
MAIS INFORMAÇÕES
— Centro de Zoonoses Paulo Dacorso Filho: largo do Bodegão, 150, Santa Cruz, Rio de Janeiro, tel. 1746, (http://updfrio.blogspot.com.br)
— Unidade de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman: avenida Bartolomeu de Gusmão, 1.120, São Cristóvão, Rio de Janeiro, tel. 1746, (http://www.rio.rj.gov.br/web/vigilanciasanitaria/ujv
— Confira os endereços das unidades municipais de saúde do Rio em (http://www.rio.rj.gov.br/web/sms/centros-municipais-de-saude)