Coronavírus e gatos: veterinária tira dúvidas sobre infecção e fake news

Em fevereiro, um cão em Hong Kong foi colocado em quarentena por ter apresentado resultado positivo para o novo coronavírus.

Com isso, muitas notícias falsas foram publicadas nas redes sociais afirmando que animais domésticos poderiam se contaminar e transmitir o vírus Sars-CoV-2.

A veterinária Rosângela Ribeiro, gerente de programas veterinários na ONG Proteção Animal Mundial, afirma que, apesar do teste positivo, não há evidências científicas de que animais pets como cães e gatos possam contrair e transmitir a doença.

“Não há provas de que o cachorro esteja infectado pelo coronavírus. Como a sua tutora tem a doença, é muito provável que o que foi encontrado na saliva do animal seja resultado de seu contato próximo a ela, e não uma infecção completa, com replicação e transmissão do vírus”, explica.

Leia a entrevista abaixo com a veterinária:

O novo coronavírus Sars-CoV-2 pode infectar gatos?
Não há evidências, até o momento, de que gatos domésticos possam se infectar ou transmitir o novo coronavírus entre outros animais e entre humanos.

Há vírus que podem infectar tanto gatos como humanos? 
Sim, existem muitas doenças transmitidas entre animais e humanos. A raiva, por exemplo, é um vírus que pode ser transmitido por um gato infectado por meio da mordedura, lambedura e arranhadura. É uma doença que não tem cura, portanto, a melhor maneira de prevenir é a vacinação anual dos gatos contra a raiva. Existem outras doenças importantes transmitidas por gatos, mas são causadas por bactérias, fungos (esporotricose) e protozoários (toxoplasmose).

A toxoplasmose é causada pelo protozoário chamado Toxoplasma gondii. Pessoas com sistema imunológico comprometido e bebês, cujas mães são infectadas durante a gravidez, podem desenvolver a doenças em sua forma grave, mas a maioria das pessoas infectadas com toxoplasmose, no entanto, não mostra sinais evidentes de doença. Gatos podem adquirir toxoplasmose comendo roedores, pássaros ou qualquer coisa contaminada com fezes de outro animal infectado.

Um gato infectado pode liberar o parasita nas fezes por até duas semanas durante sua vida. Uma vez nas fezes, o parasita só se torna infectante se esporular, e, para isso, precisa ficar em uma temperatura acima de 37 graus por um a cinco dias antes de se tornar capaz de causar infecção. No entanto, ele pode persistir no ambiente por muitos meses e continuar a contaminar o solo, a água, os jardins, as caixas de areia ou qualquer lugar onde um gato infectado tenha defecado. Por isso, deve se tomar cuidado ao limpar caixas de areia. Sempre levar em conta que é muito improvável que o contato direto com gatos traga riscos quanto a esta infecção.

Na China, algumas pessoas têm colocado máscaras nos gatos. Isso pode fazer mal ao felino?
Neste momento, não há nenhuma indicação clínica de usar máscaras em animais. Isso pode gerar um estresse físico e psicológico nos animais, trazendo um sofrimento desnecessário. O que se recomenda é que se mantenha os hábitos de higiene e evite ter contato com saliva de animais que estejam convivendo na casa com pessoas infectadas, para que eles não se infectem e não sejam carreadores do vírus para outras pessoas.

Se o tutor for infectado pelo novo coronavírus e precisar ficar de quarentena em casa, ele pode ter contato normal com seu gato?
Pode. Desde que ele mantenha isolamento do animal, evitando contato mais íntimo, para não transmitir ao animal. Até porque, até o momento, não sabemos qual vai ser o comportamento deste vírus em outras espécies. A mesma etiqueta de higiene deve ser aplicada aos animais e às pessoas: evitar contato, usar máscara, não tocar, não beijar, não tossir ou espirrar sobre os animais, evitar usar mesmo copo e ter contato com fluidos corporais da pessoa infectada.

Nos Estados Unidos, o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) fez a seguinte recomendação: “Você deve restringir o contato com animais de estimação e outros animais enquanto estiver doente com a covid-19, assim como faria com outras pessoas. Embora não haja relatos de animais de estimação ou outros animais adoecendo com a covid-19, ainda é recomendável que pessoas doentes limitem o contato com animais, até que mais informações sejam conhecidas sobre o vírus. Quando possível, peça a outro membro de sua família que cuide dos seus animais enquanto estiver doente. Se você está doente com a covid-19, evite o contato com seu animal de estimação, incluindo acariciar, aconchegar-se, ser beijado ou lambido e compartilhar alimentos. Se você precisar cuidar do seu animal de estimação ou ficar perto de animais enquanto estiver doente, lave as mãos antes e depois de interagir com os animais e use uma máscara facial”.

Devemos cuidar dos nossos animais independentemente do risco que eles possam trazer, eles também são vítimas e, caso venham a se infectar, devemos estar atentos às informações transmitidas pelos órgãos de saúde ou conversar com nosso veterinário de confiança. Nunca transmita fake news, entenda que não há motivo para pânico em relação aos animais de companhia, pois, até o momento, não há evidências de transmissão do novo coronavírus entre animais e pessoas.