Adoção de gatos aumenta na quarentena, mas protetores reforçam responsabilidade

A quarentena causada pelo novo coronavírus fez muita gente trocar o escritório pelo home office e os passeios de fim de semana pelo sofá e sessões de filmes em casa.

Essa vida mais caseira e solitária acabou despertando a vontade de adotar um gato em algumas pessoas. A tendência foi percebida por Anna Carolina Soares, criadora do projeto Lar Coração Peludo, e Susan Yamamoto, uma das fundadoras da ONG Adote Um Gatinho, ambos de São Paulo (SP).

“A gente notou que as adoções aumentaram, mas não foi um super aumento. Elas tiveram um ligeiro aumento, o que já é ótimo. Não chega a ser o que está acontecendo nos EUA, que os abrigos estão sem animais para doar, mas para quem esperava um cenário ruim, está bom”, diz Susan.

Quando a quarentena começou em São Paulo, em 24 de março, a AUG decidiu interromper as entregas de gatinhos por 15 dias, para que voluntários e adotantes não precisassem sair de casa e se expor ao vírus. Mas, no final desse período, 35 felinos que já estavam com adoção encaminhada ficaram “acumulados” e precisaram ser entregues em um dia só.

“Percebemos que não é um trabalho que dá para parar. Então reforçamos os cuidados, com uma equipe menor de voluntários fazendo as entregas, sempre usando máscaras, luvas e levando álcool em gel”, afirma Susan.

Outro aspecto observado por Susan nos últimos meses é que os adotantes ficaram menos exigentes em relação à aparência dos animais. “O que a gente nota, não sei se é coincidência ou não, mas é que as pessoas estão menos criteriosas, falando esteticamente. Estão exigindo menos, sabe? O gato não precisa ser clarinho de olho azul. Estão sendo doados os frajolas, os pretinhos, as escaminhas. As pessoas estão aceitando melhor gatos de uma forma geral.”

Anna Carolina, do Lar Coração Peludo, também notou uma procura maior por gatinhos. Desde que a quarentena começou, ela e o namorado, Douglas, fundadores do projeto, conseguiram adoção para 24 bichanos. “A gente conseguiu doar até um cachorro que estava conosco há oito meses”, comemora.

Para evitar que o entusiasmo acabe junto com a quarentena e que os gatinhos sejam devolvidos, as protetoras têm reforçado com os interessados a importância de fazer uma adoção responsável.

“Tenho tomado muito cuidado ao selecionar os adotantes, certificando que a pessoa entende que a adoção é por anos e que após a quarentena acabar, essa responsabilidade continua”, diz Anna Carolina.

“Dá medo, sim, de passar essa fase e as pessoas acabarem devolvendo os gatinhos. Mas não tem como saber. O que eu observo também é que a maior parte das adoções são feitas para quem já tem gato”, afirma Susan.

A fundadora da AUG observa também que os tutores que já têm gatos estão prestando mais atenção no comportamento do pet nesse período.

“A pessoa está em home office e o gato fica lá querendo brincar, subindo no computador durante uma reunião, e ela percebe o quanto o gato está carente, o quanto o gato é sozinho, coisa que ela não percebia antes porque não ficava em casa. Aí ela se liga que seria melhor se ele tivesse uma companhia”, diz.

Ela também conta que alguns adotantes já haviam percebido essa solidão dos gatinhos, mas não tinham tempo de se organizar para receber outro bichano em casa.

“Tem pessoas que já haviam percebido isso, mas não tinham tempo para fazer uma adaptação com calma, estavam esperando um feriado prologado, férias, e a quarentena é perfeita para isso. Tem gente que já tinha um gatinho e agora está adotando um segundo, terceiro ou quarto, apostando nesse período de ficar em casa para poder acompanhar, separar caso aconteça alguma briga”, revela.

Sobre o abandono de gatos nesse período, Susan diz que não notou um aumento. “Os pedidos de resgate a gente está recebendo tanto quanto a gente sempre recebeu. De 30 a 50 por dia.”

No entanto, ela afirma que tem tentado conscientizar as pessoas sobre fake news que envolvem gatos e o novo coronavírus.

O gato não transmite esse coronavírus para humanos. Mas acredito que, por ignorância, tem gente que escuta uma notícia pela metade e já descarta seu bichinho. Então estamos tentando conscientizar bastante as pessoas sobre isso”, diz.