Entenda como é feita a doação de sangue entre gatos e os tipos sanguíneos dos felinos
Quando a gatinha Lisa desenvolveu um quadro de doença renal e anemia, os veterinários disseram à tutora Bruna Ribeiro que a eutanásia seria a melhor solução.
Inconformada com a orientação, ela decidiu buscar a opinião de um especialista em felinos.
Foi quando ela conheceu a veterinária Vanessa Zimbres, da clínica Gato é Gente Boa, em Itu (a 101 km de São Paulo). Lá, Bruna foi informada que Lisa poderia ter uma vida mais longa e de melhor qualidade se fosse submetida a um tratamento que incluía transfusão sanguínea. Mas, para isso, precisaria encontrar um gato doador compatível.
“Como tenho outros gatos, a doutora me sugeriu levar os maiores para testar a compatibilidade. O Marty era meu maior gato, então foi o que testamos primeiro, e ele já foi compatível. Fizemos a transfusão na mesma noite. Após o procedimento, Marty só teve uma complementação alimentar com vitaminas e, no dia seguinte, já estava superativo”, conta Bruna.
A veterinária explica que as situações mais comuns para transfusão de sangue entre os gatos são em casos de anemia provocados por infecções bacterianas, virais e doença renal. “O doador deve ter entre dois e oito anos e pesar, pelo menos, 4,5 kg, além de estar saudável, com a vacinação em dia, viver preferencialmente dentro de casa e realizar todos os exames necessários para o procedimento”, ressalta Vanessa.
Segundo a especialista, devido ao pouco tempo em que o sangue pode ser armazenando, bancos de sangue para felinos não são comuns. “Normalmente, as transfusões são realizadas mediante uma coleta imediata. Além disso, como o volume de sangue coletado é muito pequeno, também não são feitas as separações de hemocomponentes como na medicina humana e até mesmo com sangue de cães. Portanto, quando se coleta sangue para transfusão em gatos, ele é utilizado somente em um paciente”, diz.
Um gato pode doar até 11 ml por quilo de peso. Ou seja, se o bichano tiver 5 kg pode ceder até 55 ml de sangue.
Os exames clínicos necessários para a doação são o hemograma, que irá avaliar o estado de saúde do animal, e o hematócrito, que analisa a concentração de hemácias no sangue do doador para identificar quanto será possível aumentar o hematócrito do receptor. Os exames de PCR negativos para FIV (Vírus da imunodeficiência felina), Felv (vírus causados da leucemia felina) e mycoplasma (bactérias transmitidas por pulgas) também são necessários para evitar a transmissão de doenças.
Tipos sanguíneos de gatos
Gatos possuem três tipos sanguíneos: A, B e AB, e mais dois grupos chamados MIK positivo e negativo. Vanessa explica que para realizar uma transfusão sanguínea entre gatos, não basta haver somente o tipo sanguíneo compatível, deve-se fazer também um teste de compatibilidade realizado entre doador e receptor.
“As reações transfusionais em gatos são extremamente graves e potencialmente fatais. Por isso, esses testes são tão importantes para preservar a vida de ambos os gatinhos envolvidos no processo”, observa.
A doação de sangue também requer atenção. Por mais bonzinho que o gato seja, vai exigir sedação, momento em que recomenda-se um período curto de jejum. Portanto, o cuidado deve ser redobrado para o gato doador, principalmente devido a uma queda de pressão que pode desencadear uma doença ainda não detectada.
A Lisa, gatinha de Bruna, infelizmente morreu em decorrência da doença renal seis meses após a transfusão recebida de Marty. Mas a tutora diz que fica tranquila por saber que fez de tudo para salvar a bichana e prolongar sua vida por mais um tempo.
“Eu indico o procedimento e acredito que existem casos de extrema importância nos quais a doação de sangue vai estabilizar o gato mais rapidamente, para que seja iniciado o tratamento adequado. Sinto muito por não ter feito antes, talvez o desfecho fosse diferente”, afirma Bruna.
A doação de sangue de um gato para uma outra espécie, como cachorros, por exemplo, não é recomendada. “Isso não é indicado, mas existem relatos de xenotransfusão de sangue de cão para gatos. Mas só ocorre se não existir nenhuma outra opção e como sendo uma última tentativa de salvar a vida do animal”, explica a veterinária. “Procurar um médico-veterinário especializado é a principal recomendação para um diagnóstico preciso e tratamento adequado para cada caso.”